Crise em saúde mental de adolescentes afeta desempenho escolar
Já é de entendimento da maioria dos profissionais de Educação, que a saúde mental dos alunos se tornou um ponto de alerta em cada escola, e isso a nível mundial. Em alta no mundo, patologias como depressão, transtornos de ansiedade e síndrome do pânico ainda são tabus no ambiente escolar. E justamente por o tema ainda não fazer parte da grade de formação dos professores e nem mesmo inserido no plano pedagógico, esse debate não faz parte da formação da maioria dos professores
Um dos maiores impactos da pandemia do Covid-19 foi a interrupção da capacidade dos jovens desenvolverem competências socioemocionais devido ao distanciamento social, o que acabou agravando a tão comum solidão adolescente. Nesse caso, as habilidades individuais que ficaram pelo caminho estão envolvidas nas formas de sentir, pensar e agir no relacionamento consigo mesmo e com outras pessoas.
Não haveria como esse movimento não causar prejuízos na vida escolar dos alunos. Ao adquirir traços de antissociabilidade, começaram a ser afetados alguns atributos como a capacidade de autogestão, que inclui organização, foco, determinação, persistência, responsabilidade e também a empatia, que reúnem características como a gentileza, o respeito e a confiança, que foram afetadas durante a pandemia.
Deixando de lado um pouco as questões sociais, vamos falar da saúde mental em si. Recentemente um caso chamou atenção dos profissionais da área da Educação. Em uma escola da zona norte da cidade do Recife, um grupo de alunos sofreu uma crise de ansiedade coletiva no meio de uma aula. Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) local, eles apresentaram indícios padronizados, que se encaixam perfeitamente como uma crise ansiolítica, tais como a sudorese, saturação baixa e taquicardia. Todos eles foram atendidos no local e não precisaram serem transferidos para hospitais, mas mesmo assim fica o alerta: será que estamos mesmo prestando atenção nos seres humanos que acabaram de passar por um período de isolamento, que estão vivendo uma era pandêmica e cheia de medo e luto, ou apenas estamos correndo atrás do prejuízo pedagógico que isso nos trouxe?
As últimas décadas nos trouxeram preocupações em que as crianças e adolescentes tivessem contato precoce com gravidezes, alcoolismo e outros vícios como o tabagismo ou drogas ilícitas, mas não é de hoje que sabemos que a doença do século está relacionada à saúde mental. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA revelou dados que demonstram que, entre 2009 e 2021, o percentual de estudantes estadunidenses, que demonstravam sentimentos (persistentes) de tristeza ou desesperança, subiu de 26% para 44%. Isso é grave, um recorde preocupante, principalmente quando essas patologias afetam a um nível de casos de automutilação, mais comuns entre pessoas de 10 a 19 anos.
No Brasil, uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) afirmou que 36% dos jovens brasileiros tiveram sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia. Especialistas, tanto em Saúde quanto em Educação, estão tentando, em uníssono, ‘correr atrás do prejuízo’ para identificar os casos, saber como lidar e entender como isso afetará o futuro da sociedade, o acadêmico e também do mercado de trabalho. Com isso, é importante reforçar os debates e olhares atentos às questões de bullying, inclusão e pautas antirracistas dentro e fora da sala de aula. Se não sabemos por onde começar, que tal por aqui? Pessoas acolhidas se sentem mais seguras, e a escola é um ambiente de acolhimento, não apenas de transmissão de conhecimentos.